Depois das entrevistas com Ana Leça, Beatriz Narciso, Elizabeth Prentis, Flávia Costa, Jéssica Ilfu-Soie Joana Dionísio e Joana Paraíso. seguimos agora para a quinta artista finalista da 1.ª edição da Women in Art Fellowship (WAF). Hoje é a vez de conhecer melhor o percurso, as referências e a visão artística de Patrícia Pettitt.

WAF — Podes contar-nos um pouco sobre ti e sobre o teu percurso até agora?
Patricia Pettitt – Sou artista visual e fotógrafa, com uma prática centrada na auto-representação, no feminino e na construção de narrativas visuais carregadas de simbolismo e emoção. Aos 18 anos, emigrei para Inglaterra para concretizar o meu sonho de ser bailarina. Licenciei-me em Dança Contemporânea na Northern School of Contemporary Dance (Universidade de Leeds) e conclui o mestrado em Dança-Teatro Europeu no Laban Centre (Universidade de Londres). Entre 1998 e 2015, vivi em Leeds e Londres, onde trabalhei como bailarina, coreógrafa e professora. Em 2015, regressei a Portugal com o meu marido e os nossos dois filhos. Foi apenas em 2018 que iniciei o meu percurso na fotografia, através de formações contínuas no Instituto de Produção Cultural e Imagem (IPCI), no Porto, onde terminei o Master em Fotografia Artística em 2020 e onde sou, atualmente, formadora.
WAF — Qual foi o maior desafio que encontraste na tua carreira artística até agora e como o superaste?
Patricia Pettitt – Provavelmente conciliar os meus compromissos familiares com a dedicação e imersão física e psicológica necessária na minha pratica artística. Não tenho a certeza se superei este desafio acho que ainda está work in progress.
WAF — Que experiências consideras terem sido mais determinantes na tua evolução enquanto artista?
Patricia Pettitt – A partilha de trabalho durante portfolio reviews e, sem dúvida, a colaboração com curadores que respeitam o meu trabalho e visão artística, mas que ao mesmo tempo me questionam e inspiram a aprofundar a minha prática.
WAF — Que artistas, movimentos ou acontecimentos mais influenciaram a tua prática?
Patricia Pettitt – As minhas influencias são muito diversas e vão da dança teatro à literatura passando pelas artes plásticas, a fotografia e o cinema. Alguns artistas que admiro e me inspiram são, Pina Bausch, Wong Car Wai, Wes Anderson, Edward Hopper, Paula Rego, Helena Almeida, Vermeer, Caravaggio, Gregory Crewdson… Na verdade a lista é infinita!
WAF — Há alguma obra ou momento na tua vida que consideres ter sido um ponto de viragem criativo?
Patricia Pettit – Quando comecei a trabalhar o auto retrato. A liberdade e controlo criativo que me proporcionou foi sem dúvida uma revelação incrível.


WAF — O que te motiva a criar e a persistir no teu trabalho artístico?
Patricia Pettitt – A necessidade de compreender e transformar experiências e sentimentos em algo visualmente comunicável. A arte é a minha forma de estar no mundo, de me relacionar com ele e de o questionar.
WAF — Como defines o propósito do teu trabalho enquanto mulher nas artes?
Patricia Pettitt – O meu trabalho procura tornar visível o que muitas vezes é silenciado ou esquecido: as vozes femininas, as memórias do corpo, os espaços íntimos e a complexidade emocional das mulheres. É uma forma de reivindicar o espaço da mulher como sujeito criador e não apenas representado.

WAF — Que mensagem ou reflexão pretendes transmitir com a tua obra?
Patricia Pettitt – É importante reconhecer as mulheres como indivíduos com livre-arbítrio, autonomia e valor inerente, em vez de reduzi-las a meros objetos.
WAF — Como costumas organizar o teu processo criativo? Tens algum método ou rotina preferida?
Patricia Pettitt – O meu processo é bastante longo e solitário. Depois de surgir a ideia, passo muito tempo a ler, a pesquisar, a enquadrar. Preocupo-me sempre se será interessante e relevante para mais alguém. Crio as minha personagens (como se de uma peça de teatro se tratasse), penso no styling, na localização, faço esboços (muito simples e terríveis). Quando chega a altura de fotografar, mesmo tendo um plano em mente, deixo sempre espaço para improvisação em frente da câmara. O processo de fotografar em si é bastante longo, também porque trabalho sempre sozinha, o que torna complicado estar simultaneamente em frente e por trás da câmara. Passo também muito tempo na pós-produção das imagens para que alinhem perfeitamente com a minha visão. Encaro este passo quase como pintura digital e proporciona-me muito prazer.



WAF — Que técnicas, materiais ou meios gostas mais de explorar na tua prática?
Patricia Pettitt – Fotografia digital, performance e instalação. A luz, a cor e a composição são pilares fundamentais da minha linguagem visual.
WAF — Que papel têm a colaboração ou a interdisciplinaridade no teu trabalho?
Patricia Pettit – A interdisciplinaridade manifesta-se no meu trabalho sobretudo através da simbiose entre fotografia, performance e instalação. A fotografia é o ponto de partida e o meio principal, mas frequentemente nasce de ações performativas diante da câmara — o corpo em movimento, o gesto, o tempo — transformando o ato de fotografar num ritual íntimo e encenado. Por vezes, essas imagens desdobram-se em instalações que prolongam a narrativa visual no espaço expositivo, criando ambientes imersivos e sensoriais. Esta combinação permite-me explorar diferentes dimensões da experiência — visual, corporal e espacial — e aprofundar a relação entre imagem, presença e memória.

WAF – De que forma esta bolsa poderá transformar ou impulsionar o teu percurso artístico?
Patricia Pettitt – Esta bolsa é crucial para o meu percurso artístico. Representa não apenas o reconhecimento do meu trabalho, mas também a possibilidade real de o levar a um novo patamar. Permitirá aprofundar e desenvolver a minha investigação, expandir a minha linguagem visual e explorar formatos e contextos expositivos mais ambiciosos. Com este apoio, poderei dedicar tempo e recursos à criação de forma consistente e sustentada, garantindo a continuidade e evolução do meu trabalho. Mais do que um impulso, esta bolsa é uma oportunidade única para consolidar e expandir a minha presença no panorama artístico nacional e internacional, e para abrir novos diálogos com públicos e profissionais que tem o potencial de transformar o futuro da minha obra.
WAF — Quais são as tuas expectativas em relação ao impacto deste projeto no contexto nacional/internacional?
Patricia Pettitt – A minha expectativa é que o projeto possa circular em exposições e publicações, contribuindo para o debate sobre identidade e representação do feminino. Gostaria de o apresentar tanto em espaços institucionais como em contextos mais intimistas e experimentais. Um dos meus objectivos principais é desafiar os espectadores a verem o trabalho para lá da sua beleza estética.
WAF — Onde te vês daqui a cinco anos enquanto artista?
Patricia Pettit – Vejo-me com um corpo de trabalho mais extenso e com maior presença nacional e internacional, a desenvolver projetos expositivos e editoriais, e talvez a colaborar com outros artistas para criar instalações visuais e performativas de forma mais consistente. Quero continuar a criar com autenticidade e liberdade, sem seguir tendências.



Com esta oitava entrevista damos continuidade à série dedicada a dar voz às finalistas da 1ª edição da Women in Art Fellowship. A WAF nasce da colaboração entre o Freeport Lisboa Fashion Outlet, o Vila do Conde Porto Fashion Outlet, a Portugal Manual e a SOTA – State of the Art, e conta com a artista Joana Vasconcelos como madrinha da sua primeira edição.
Convidamos-te a acompanhar de perto este percurso: segue a WAF no Instagram e descobre mais sobre o trabalho de Patricia Pettitt.