Entrevista a Elizabeth Prentis, finalista da WAF


Depois das entrevistas com Ana Leça e Beatriz Narciso, seguimos agora para a terceira artista finalista da 1ª edição da Women in Art Fellowship (WAF). Hoje é a vez de conhecer melhor o percurso, as referências e a visão artística de Elizabeth Prentis.


WAF — Podes contar-nos um pouco sobre ti e sobre o teu percurso até agora?

Elizabeth Prentis – Sou artista multidisciplinar a trabalhar entre escultura, performance e instalação em grande escala. A minha prática está enraizada na política feminista, focando-se especificamente nas dinâmicas de poder em relações sexuais, na cultura de violação e na violência de género. Trabalho com materiais industriais como betão e metal, juntamente com formas mais suaves e maleáveis — este contraste encarna a negociação entre vulnerabilidade e resistência.

WAF — Qual foi o maior desafio que encontraste na tua carreira artística até agora e como o superaste?

Elizabeth Prentis – Uma das partes mais difíceis da minha prática é perceber quão vulnerável permito que o trabalho seja. Onde traçar o limite no que partilho? Onde está a minha fronteira de conforto? A minha prática é autobiográfica — as minhas próprias experiências e traumas estão incorporados no processo e nos resultados. Pode ser desafiante expor diretamente as tuas vivências, especialmente quando a narrativa do trabalho está enraizada na política feminista.

Tenho sentido que muitos espaços consideram artistas mulheres um “risco” quando abordam temáticas políticas no seu trabalho. Já lidei com muitos olhares revirados por parte de homens na indústria. O maior desafio é ganhar resistência emocional para lidar com essas pessoas. E como se supera isso? Sendo ainda mais ambiciosa e teimosa, recusando aceitar um “não” como resposta. Foco-me no facto de querer que os meus trabalhos e exposições criem espaço para que outras pessoas possam falar, refletir e conectar-se com aquilo que tenho para dizer.

WAF — Quais as experiências que consideras mais decisivas na tua evolução como artista?

Elizabeth Prentis – Mudar-me para Lisboa foi uma experiência que trouxe novos desenvolvimentos à minha prática. A mudança nas atitudes culturais — especialmente em relação à autonomia feminina — teve um impacto profundo. Tornei-me mais assertiva, o trabalho ficou mais direto e agressivo. As minhas performances tornaram-se mais cruas. A hipocrisia e misoginia diária que encontrei aqui solidificaram a urgência de abordar diretamente as políticas de poder de género.

WAF — Quais são as tuas principais referências artísticas ou culturais?

Elizabeth Prentis – As performances lúdicas e eróticas de Rosie Gibbens, que expõem normas de género e o desconforto corporal, ressoam profundamente com o meu interesse pelo embaraço, pela sexualidade e pelo humor feminista. As esculturas monumentalmente intransigentes de Phyllida Barlow também foram uma enorme influência — a forma como ela trabalha com a escala e a aspereza para afirmar presença é algo que levo para as minhas instalações em grande escala. Também me inspiro na energia selvagem e narrativa caótica de Monster Chetwynd.

WAF — O que te motiva a criar e a persistir no teu trabalho artístico?

Elizabeth Prentis – Crio porque estou zangada. Porque as mulheres ainda são culpabilizadas. Porque o consentimento ainda é mal compreendido. Porque o silêncio continua a proteger os agressores. A arte dá-me um espaço para gritar — onde a raiva, o luto e a resistência se tornam matéria. Persisto porque o problema persiste.

WAF — Como defines o propósito do teu trabalho enquanto mulher nas artes?

Elizabeth Prentis – Criar solidariedade e desconforto em igual medida. O meu trabalho não se trata de cura, mas sim de dar voz — dar forma a experiências frequentemente enterradas por vergonha ou medo.

WAF — Que mensagem ou reflexão pretendes transmitir com o teu trabalho?

Elizabeth Prentis – Quero que as pessoas falem sobre sexo — não fantasias pornográficas, mas as experiências reais, confusas e complicadas que revelam desequilíbrios de poder. Quero questionar: Quem detém o poder nos momentos íntimos? O que é coerção? Como é que a dominação se torna normalizada? Estas são perguntas que coloco no espaço público através do meu trabalho — por vezes subtilmente, outras vezes de forma confrontativa.

WAF — Como organizas habitualmente o teu processo criativo? Tens algum método ou rotina preferida?

Elizabeth Prentis – Trabalho a partir do impulso e da urgência. Não tenho um método fixo, para além da experimentação, investigação aprofundada e do envolvimento físico com os materiais.


WAF — Que técnicas, materiais ou meios gostas mais de explorar na tua prática?

Elizabeth Prentis – Utilizo materiais industriais — betão, aço, grades — porque remetem para controlo, força e masculinidade. Contrasto estes com elementos suaves ou maleáveis como tecido, silicone ou o próprio movimento corporal. Também tenho incorporado cada vez mais o som — karaokê, canções escritas por mim, peças de texto falado.

WAF — De que forma esta bolsa pode transformar ou impulsionar o teu percurso artístico?

Elizabeth Prentis – Daria o apoio financeiro e institucional necessário para realizar esta obra com a escala e intensidade que exige. Validaria a urgência da intervenção feminista nos espaços da arte contemporânea e abriria portas para maior visibilidade e discussão crítica.

WAF — Quais são as tuas expectativas quanto ao impacto deste projeto no contexto nacional/internacional?

Elizabeth Prentis – Espero que provoque. Espero que convide ao diálogo. Espero que posicione a minha voz dentro de um movimento internacional crescente de artistas que enfrentam a violência sexual, o consentimento e o controlo patriarcal. É tempo de tirar estas conversas das sombras e trazê-las para o espaço público — escultórico, espacial, performativo.

WAF — Onde te vês daqui a cinco anos como artista?

Elizabeth Prentis – Ainda a fazer trabalhos barulhentos, políticos e desconfortáveis. Idealmente, a trabalhar em encomendas públicas. Gostaria de criar uma residência feminista para artistas que trabalham com trauma, raiva e corpo.

Com esta terceira entrevista damos continuidade à série dedicada a dar voz às finalistas da 1ª edição da Women in Art Fellowship. A WAF nasce da colaboração entre o Freeport Lisboa Fashion Outlet, o Vila do Conde Porto Fashion Outlet, a Portugal Manual e a SOTA – State of the Art, e conta com a artista Joana Vasconcelos como madrinha da sua primeira edição.

Convidamos-te a acompanhar de perto este percurso: segue a WAF no Instagram e descobre mais sobre o trabalho de Elizabeth Prentis.

Sabe mais sobre a bolsa WAF neste artigo no blog.