Sílvia Perloiro (Contra/Tempo)

Sílvia Perloiro (Cascais, 1961) estudou arquitetura, educação e moda. É cofundadora do projeto SARILHO (2016) e da GALERIA NA MONTRA (2020). Seu corpo de trabalho é objetual e diverso, explorando a matéria como reveladora do invisível. Os seus objetos situam-se no âmbito da poesia.

 
 

 

 

Sílvia Perloiro (Cascais, 1961) studied architecture, education, and fashion. She is a co-founder of the SARILHO project (2016) and GALERIA NA MONTRA (2020). Her body of work is diverse and object-based, exploring materials as a means to reveal the invisible. Her creations fall within the realm of poetry.

As mãos sustêm a alma

Dimensões: 50 x 120 cm

Técnicas e materiais: Fio de lã de origem merina, croché.

Descrição: Obra têxtil, em fio de lã merino, realizada em croché – técnica que consiste numa sequência de argolas que se entrelaçam umas nas outras com a ajuda de um gancho. Forma rectangular, engradada em varão de ferro. Intencionalmente não é emoldurada. No procedimento têxtil, parti e atei fios, explorei interações cromáticas, formas e texturas. Repeti gestos, cadências, sequências. O percurso que segui é exploratório, introspectivo. Um itinerário, sem guia, pausado, atento, materializando-se nesta obra, que desperta histórias de pessoas e de objetos. Lembro a bisavó Maria sentada em silêncio, a janela do lado esquerdo. No açafate, o agulheiro, o ovo de madeira para passajar e novelos coloridos de tiras de tecidos. Com a tesoura dava o primeiro corte em bainhas de roupa gasta de tanto uso e com a precisão de quem conhece teias e tramas, rasgava-as em tiras que unia com pequenos pontos de agulha. Essas novas e grandes tiras eram transformadas em novelos compactos e pesados. Estes procedimentos, gestos e sons repetiam-se. Por vezes as mãos paravam e olhava pela janela. Em contexto contemporâneo esta sequência poderia ter caracter performativo. Até finais dos anos 70, muitas mulheres nos seus tempos livres tinham a prática de transformar a roupa e os têxteis de casa gastos pelo uso, em tiras de tecido entregues (por vezes vendidas) a tecedeiras que com elas teciam mantas e tapetes de trapos.

 
 

 

 

Size: 50 x 120 cm

Techniques and materials: Merino wool yarn, crochet.

Description: Textile Work in merino wool yarn, created with crochet—a technique involving a sequence of loops interlocked with the help of a hook. Rectangular in shape, it is mounted on an iron rod and intentionally left unframed. In the textile process, I broke and tied threads, explored color interactions, shapes, and textures, repeating gestures, rhythms, and sequences. My path was exploratory and introspective—a journey without a guide, slow and attentive, materialized in this piece, which evokes stories of people and objects. I remember my great-grandmother Maria sitting silently, with the window to her left. In her basket were her pincushion, wooden darning egg, and colorful balls of fabric strips. She would give the first snip with her scissors to the hems of worn-out clothing and, with the precision of someone who knows warp and weft, tear them into strips, joining them with tiny hand stitches. These new, thick strips were transformed into compact, heavy balls. These actions, gestures, and sounds repeated themselves. Sometimes, her hands would pause as she looked out the window. In a contemporary context, this sequence might be considered performative. Until the late 1970s, many women in their spare time transformed worn household textiles and clothing into fabric strips, often given or sold to weavers who used them to create rag blankets and rugs.