A experiência da tosquia com Paula Neves: um dia de mãos na lã e alma cheia

Há convites que nos marcam. Foi o caso deste, lançado pela Paula Neves, que nos desafiou, a mim e à Maria Pratas, a participar na tosquia das suas ovelhas, na Horta do Ser. Um dia que ficará para sempre connosco, não só pela experiência, mas pela forma como nos ligou à terra, aos animais e a um saber-fazer tão antigo quanto essencial.

A Paula e o Pedro, quem constrói este projeto, dedicam-se à criação de ovelhas e à transformação da lã com uma abordagem artesanal e consciente. A Horta do Ser, no Alentejo, é um espaço onde o tempo se respeita e onde cada fio conta uma história.

O dia começou cedo, com a saída do Castelo de Monsaraz em direção ao monte. À chegada, os tosquiadores e o Pedro já preparavam tudo para um dia de trabalho. E logo nos rendemos ao ambiente especial: ao som de música clássica, escolhida a dedo, as ovelhas mantinham-se calmas, criando uma atmosfera serena e quase meditativa.

Neste dia foram tosquiadas 21 ovelhas Merino branco e uma Churra Assaf, a Olívia, que é um verdadeiro símbolo da diversidade do rebanho. Entre elas, 20 fêmeas e um carneiro. Foi também a primeira tosquia das mais jovens Flor e Zoe, o que nos permitiu assistir ao seu “aninho” — nome dado à lã da primeira tosquia.

O processo foi realizado com todo o cuidado, uma a uma. Após a tosquia, seguiu-se a desbordagem, onde são retiradas as partes mais sujas e danificadas da lã, preparando-a para as fases seguintes. Depois, a tipificação: análise do comprimento, espessura e frisado das fibras, que ajuda a determinar o melhor aproveitamento da lã.

Cada velo (a lã retirada das ovelhas adultas) foi enrolado e guardado em sacos, devidamente identificados com o nome da respetiva ovelha, garantindo a rastreabilidade do material.

Durante este processo, aprendemos também sobre a suarda — a gordura que impregna a lã enquanto está no animal, resultante da mistura da lanolina (a gordura natural da lã) com o suor e outras secreções. A lanolina, posteriormente extraída, tem várias aplicações, desde a cosmética à conservação da própria lã.

Foi um dia de aprendizagem, de contacto direto com o saber-fazer, e de profundo respeito pelos animais e pelos seus ritmos.

De coração cheio, deixamos o convite a visitarem o espaço da Paula Neves no Castelo de Monsaraz, onde podem conhecer os fios e as peças que resultam deste trabalho tão especial.

E deixamos ainda uma curiosidade:

Sabia que as ovelhas podem ter dificuldade em reconhecer-se umas às outras depois de serem tosquiadas?

Isto acontece porque utilizam mais do que apenas a visão para se identificarem — o cheiro e a aparência da lã são essenciais na comunicação e no reconhecimento entre elas.

Aproveitamos para vos convidar a ouvir o episódio do nosso podcast em que estivemos à conversa com a Paula.