À conversa com Diogo Amaro

É da sua oficina, instalada numa antiga tanoaria que Diogo Amaro nos responde para vos dar a conhecer um pouco mais do seu percurso e processos criativos.

@Francisco Ascensão

Diogo Amaro é um arquitecto e marceneiro baseado no Porto. Entre 2015 e 2018 colabora com diversos ateliers de arquitectura, no estrangeiro e em Portugal. Interessado numa prática de proximidade com o saber fazer, em 2018 decide aprofundar os seus conhecimentos na arte de trabalhar a madeira com os mestres marceneiros da FRESS, onde passa 2 anos a absorver todo o conhecimento que têm para transmitir.

PM – Tens alguma rotina matinal ou ritual que te ajuda a começar o dia com energia e criatividade?
Diogo – Neste momento vivo no centro do Porto e tenho a oficina em Esmoriz. Saio de bicicleta até S. Bento, e apanho o comboio que faz a linha do norte junto à costa. Tenho a sorte de ter a oficina perto do mar, e regularmente faço a parte final do percurso de bicicleta, pela praia. É uma rotina que me permite abrandar e desligar da azáfama da cidade, e focar-me no meu trabalho.

PM – Qual é o teu lugar favorito para encontrar inspiração ou relaxar? Alguma paisagem ou ambiente que te inspire?
Diogo – Porto Santo. É o lugar que procuro sempre que preciso de recarregar energias. É, para mim, sinónimo de praticar algo essencial à vida – o ócio.

PM – Quais são os teus métodos para lidar com o bloqueio criativo?
Diogo – Não é uma coisa em que pense muito. Geralmente, quando isso acontece, tendo a desligar e esquecer esse processo durante uns tempos. E só volto a ele quando a cabeça decide. É uma coisa bastante intuitiva, na verdade.

PM – Uma peça tua?
Diogo – A última. O processo criativo é uma coisa sempre em evolução e transformação. É um acumular de experiências, e experimentação, que avança muito por base de tentativa e erro. E é o erro, o maior catalisador para evoluir. Portanto, se tivesse de escolher uma peça minha, diria a última. Até fazer a próxima.

Pm – Uma música?

Diogo – Um album. Sim Sim Sim dos Bala Desejo.

Pm – Alguma experiência ou viagem que teve um impacto significativo no teu processo criativo? onde e porquê?
Diogo – Curiosamente toda esta aventura de trabalhar a madeira começou, há 5 anos, com uma viagem.
Na altura, trabalhava num atelier de arquitetura em Lisboa, quando fiz uma viagem a Chicago. Entre deep dish pizzas, e blues, grande parte da viagem foi, naturalmente, a ver arquitetura. E nesse extenso roteiro, incluía-se toda a obra construída de Frank Lloyd Wright em Chicago, essencialmente do início da sua carreira. Foi um confronto que me impressionou bastante, muito pela forma como Wright conseguiu tirar o melhor dos artesãos do seu tempo, e trazer isso para a arquitetura moderna. De volta a Lisboa, essa ligação muito forte entre quem desenha, e quem constrói não me saía da cabeça, acentuada pelo facto
de, hoje em dia, essa relação entre desenho e construção ser cada vez mais distante na arquitetura.
Pouco tempo depois, despedi-me, e passei dois anos na Fundação Ricardo Espírito Santo a aprender com os mestres marceneiros da FRESS. Foi um período incrível, de contínua absorção de conhecimento, em que essa transmissão do saber fazer era feita pelos mestres de forma exímia.
E durante esses dois anos, de muita experimentação, decidi estudar a fundo a obra de FLW, e cruzá-la com o conhecimento diário que ia adquirindo na fundação.
O resultado dessa experimentação é a série Chicago, uma coleção de 8 peças, que revisita o imaginário da arquitetura de Chicago na viragem para o século XX, em particular a obra de Frank Lloyd Wright.

PM – Existe alguma história especial por trás de uma das tuas criações? Podes contar-nos um pouco sobre ela?
Diogo – Estou a desenhar uma nova série de peças intitulada Matéria. De volta ao Porto, no início deste ano estabeleci a minha oficina num dos espaços de uma antiga Tanoaria. Mesmo ao lado da minha, a antiga oficina, com as máquinas industriais, ferramentas, e stocks antigos de castanho usados para a construção dos barris, ainda se mantêm completamente intactos.

@Francisco Ascensão

Matéria surge como uma reação a este ambiente. É uma coleção desenhada com base em três materiais intrinsecamente ligados ao ofício da tanoaria: castanho, carvalho e cortiça. Inspirada por esta indústria histórica, procura perpetuar, e reinventar o saber fazer, através da matéria local. A primeira peça desta série, MA.S 01, é um aparador, feito em cortiça e carvalho. Foi pensado para ser uma garrafeira, mas
versátil para ter qualquer outro uso.

Podem conhecer mais do trabalho do Diogo aqui e aqui.