À conversa com Filipa Homem

Filipa é designer de moda e, durante muitos anos, trabalhou em vários países no estrangeiro, perdendo a conta ao número de casas onde viveu. Contudo, em todas elas algo permaneceu: a criação do seu próprio mundo, com peças e objetos que lhe eram especiais. A marca hOmem foi criada pelas suas próprias mãos, onde coloca em prática as suas ideias na porcelana, em contraste com a exploração de moldes de gesso. Utiliza objetos comuns, alguns de cariz sentimental, transformando-os em peças coloridas, criando novas narrativas, de carácter próprio, onde o cruzamento entre o têxtil e a cerâmica é aplicado para fixar histórias ao material, marcando o tempo-espaço-objeto. 

Filipa Homem, Portugal Manual
Filipa Homem, Portugal Manual

PM – O que te inspira além do seu trabalho? Quais são seus hobbies ou interesses fora do campo criativo?

Filipa – Tudo pode ser uma fonte de inspiração! Um bom livro, um bom filme, um artigo numa revista, algo que eu veja na rua, normalmente um detalhe, uma forma e acho que mais que tudo a cor…é por fases, mas as vezes parece que estou sempre a ver a mesma cor. Depois as viagens e o estar em contacto com outras culturas, pessoas e sítios seja o que me inspire mais. Tudo o que abra os meus sentidos…o novo ou algo que de alguma maneira me emocione.

Gosto de viajar, estar com os meus amigos, ir a praia, ler e apanhar sol ☺

PM – Qual é o teu lugar favorito para encontrar inspiração ou relaxar? Alguma paisagem ou ambiente que te inspire

Filipa – Para relaxar a praia, o mar. Mas também me relaxa e inspira estar a olhar para uma pintura que goste muito. As cores e os detalhes relaxam-me e inspira-me.

PM – Tens alguma rotina matinal ou ritual que te ajuda a começar o dia com energia e criatividade?

Filipa – Um bom pequeno-almoço, com tudo o que tenho direito. Todos os dias, não abdico disso! Sabe-me bem e ponho as ideias em ordem!

PM – Existe alguma história especial por trás de uma das tuas criações? Podes contar-nos um pouco sobre ela?

Neste momento, a minha vida divide-se entre o meu projeto pessoal onde reina a cerâmica e o meu trabalho como designer de moda. Sou criativa nos dois lados…e apesar de as vezes achar que a minha cabeça vai explodir é algo que me estimula e me dá prazer. No design de moda tem muito a ver com o cliente para quem estou a trabalhar…é uma mistura disso com o que estou a ler, ver ou viver na minha vida naquele momento. O meu trabalho passa muito por criar histórias e isso é algo que me surge sempre naturalmente. 

No meu projeto pessoal que agora passa muito pela cerâmica a história por detrás é a busca pela minha identidade, o que é que é isso de ser eu…aquilo que faço com a maior das naturalidades e alguma facilidade para clientes, agora estou a fazer para mim. Nem sempre é fácil pois sou muito exigente comigo. Por isso comecei pelo meu nome, Homem, que conta a história da família do lado da minha mãe com a qual me identifico muito na minha maneira de ser (fibra misturada com mau feitio ahahaha). É a história de um senhor inglês que chegou num barco ao porto de Sesimbra, o nome dele era tão complicado de dizer que as pessoas começaram a chamá-lo de Homem…e é dai que vem o meu sobrenome! Foi o meu avô que me contou essa história quando era pequena e nunca me esqueci. Acho bonito isto de sabermos de onde vimos.

PM – Se tivesses a oportunidade de colaborar com qualquer artista/escritor/designer do mundo, quem seria e porquê?

Talvez o Jonathan Anderson da Loewe porque admiro a sua multidisciplinaridade e porque ele vê o mundo, a moda e a arte de uma maneira peculiar e isso é lindo.

E já agora também a Sophie Taeuber-Arp…pelas mesmas razões…esta coisa de não se ser só uma coisa e estar tudo bem é algo que me fascina…se calhar porque eu também sou um bocadinho assim.

PM – Uma música?

Filipa – Work da Charlotte Day Wilson

PM – Um livro?

O Just Kids da Patty Smith.

PM – Um filme?

Filipa – Requiem for a Dream do Darren Aronofsky

PM – Uma côr?

Filipa – Adoro todas…mas o rosa talvez tenha sido a mais constante na minha vida.

PM – Um lugar?

Filipa – Bali

PM – Uma pessoa?

Filipa – O meu pai.

PM – Uma peça tua?

A minha primeira camisola de tricot em porcelana.

filipa homem, portugal manual
filipa homem, portugal manual

PM – Uma peça de um colega?

Filipa – As lagoas em degradé da Bianca.

PM – Alguma experiência ou viagem que teve um impacto significativo no teu processo criativo? onde e porquê?

Filipa – Acho que todas as viagens têm impacto em mim. Mas talvez os dois meses que estive a atravessar os EUA, a parte do deserto que nunca tinha visto teve um impacto por causa da cor.…lembro-me que a seguir desenhei uma série de coisas com essa cor vermelha. 

PM – Quais são os teus métodos para lidar com o bloqueio criativo?

Filipa – Não sei bem o que é isso do bloqueio criativo nem se alguma vez sofri disso…ou então simplesmente não lhe dou importância. Nunca forço nada…porque forçado não sai nada de jeito. Por isso simplesmente deixo as coisas fluir.

Conheçam mais aqui e aqui.