À conversa com Susana Gomes

O beija-flor é uma marca de estacionário portuguesa, com uma forte ligação ao imaginário português e à ilustração. Criada em 2011, inicialmente num projeto mais descomprometido a 4 mãos, é desde 2014 um desafio mais abrangente, conduzido por Susana Gomes. Esta não o descreve propriamente como um projeto autoral mas a verdade é que é reflexo das suas influências, experiências e gostos, daí também seguir uma linguagem muito própria, delicada e simples. Cria, sem qualquer tipo de regularidade ou obrigatoriedade, produtos que contam histórias em papel – as da sua origem e as que terão depois, nas mãos de quem lhes der uso e sentido. Alia design gráfico, ilustração, tipografia, processos tradicionais de impressão e encadernação, aos mais variados acabamentos. Valoriza o que é português, a qualidade, o detalhe e o registo, como história e memória.

PM – O que te inspira além do seu trabalho? Quais são seus hobbies ou interesses fora do campo criativo?
Susana – O dia a dia, o que vai acontecendo ao meu redor, seja em casa ou no sítio onde vivo.
Adoro fotografar, longe do intuito profissional, e adoro vasculhar/descobrir lojas, espaços e objectos cheios de histórias. Cozinhar também é algo que me dá muito prazer e me ajuda a desligar.

PM – Qual é o teu lugar favorito para encontrar inspiração ou relaxar? Alguma paisagem ou ambiente que te inspire?
Susana – Gosto mesmo de sair a pé pela cidade, sem qualquer compromisso, ver e ouvir pessoas e descobrir recantos bonitos e inesperados. Tomar café, estar ali a absorver o que me rodeia, sem grandes pretensões. Desde que vivo numa ilha que o mar tem estado também muito presente nestes momentos.

PM – Tens alguma rotina matinal ou ritual que te ajuda a começar o dia com energia e criatividade?
Susana – Tomar o pequeno almoço (café sempre!) com calma, ouvir música enquanto organizo o espaço que me rodeia e o meu dia, no papel. 

PM – Existe alguma história especial por trás de uma das tuas criações? Podes contar-nos um pouco sobre ela?
Susana – Tenho várias mas, talvez a mais especial, seja a história da coleção jardim de memórias.
Quando, há cerca de 1 ano, tive de me despedir da casa onde cresci e vivi até aos 18 anos – a casa dos meus pais – resolvi fazer esta coleção como uma espécie de catarse. Foi uma despedida difícil (era ali que ainda me sentia um bocadinho mais próxima deles) e pensei que criar algo poderia ser uma forma bonita de eternizar as minhas memórias. O jardim bonito que Raquel Graça ilustrou faz isso mesmo, guarda muitas memórias das flores que associo aquela casa, à minha infância e, principalmente, à minha mãe.

PM – Se tivesses a oportunidade de colaborar com qualquer artista/escritor/designer do mundo, quem seria e por quê?
Joana Caetano, aka Jubela. Pela qualidade e minuciosidade do seu trabalho e ainda pela autenticidade e ligação ao imaginário português. Há uns anos começamos a desenhar um produto em conjunto, não chegou a acontecer porque a vida se meteu pelo meio, mas adorava que um dia pudessemos cruzar o bordado e o papel num encontro feliz.

PM -Uma música?
Susana – Talvez a pergunta mais difícil de responder (tenho tantas) mas uma das que me vem logo à cabeça é a True love will find you in the end, a original do Daniel Johnston ou mesmo a cover do Beck.

PM – Um filme
Susana – O Lobo e o Cão, da Cláudia Varejão, o último que vi e que adorei. Muito, muito bonito, pela forma simples (embora nada simplista) como aborda uma mensagem tão forte, pela fotografia, pela música, por tudo. O facto de ser passado nos Açores também o torna mais próximo, admito. 

PM – Uma côr?
Susana – Mostarda.

PM – Um lugar
Susana – Os Açores (em especial São Jorge, a ilha que me roubou o coração).

PM – Uma pessoa
Susana – A minha mãe.

PM – Uma peça tua
Susana – A coleção Atlântico.

PM – Uma peça de um colega
Susana – O último tapete que o Júlio Dolbeth desenhou para a Gur. Na verdade gosto muito do trabalho da Célia, de vários tapetes da Gur e de todo o conceito da marca, que une a manualidade de uma técnica, à ilustração (que tanto me diz). 

PM – Alguma experiência ou viagem que teve um impacto significativo no teu processo criativo? onde e porquê?
Susana – A mudança para os Açores. Obrigou-me a reorganizar todo o meu processo de trabalho o que, por consequente, influenciou muito o processo criativo. Para além disso, a presença forte da Natureza e as fortes tradições locais (que em parte me aproximam muito da minha infância) têm sido também uma experiência muito influente.

PM – Quais são os teus métodos para lidar com o bloqueio criativo?
Susana – Procurar fazer algo completamente diferente, distanciar-me e voltar mais tarde.

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