Milena Sophie Kalte
Milena Sophie Kalte faz parte de uma nova geração de artesãs do Esparto formadas pelas mãos das últimas mestres deste saber-fazer na aldeia das Sarnadas no concelho de Loulé. Como antropóloga visual, especializada em Human-Animal Studies, encontrou a sua expressão artística no cruzamento entre a etnografia e o entrelaçar de fibras vegetais.    É desta interseção de mundos que nascem as suas mascaras, representantes de criaturas oriundas do imaginário popular português como a Zorra Berradeira. As suas descrições metamórficas foram guardadas em formato de histórias orais, passadas de boca em boca. Estas serviam de mecanismo de memória popular para guardar informações relevantes sobre a natureza envolvente, enquanto proporcionavam, de forma orgânica e decentralizada, um lugar de cocriação de conhecimento. Uma vez afixadas pela escrita, foram sucessivamente separadas da tradição oral e da sua natureza performativa e interativa.    As máscaras evocam esta dimensão de interação para com a história e a entidade do outro, com a criatura, a besta, a fera. Qual é a história que elas têm para nos contar? E qual pode ser a sua relevância nos dias de hoje?   As máscaras são feitas inteiramente em Esparto (Stipa Tenacissima), uma planta autóctone que cresce nas terras montanhosas do interior do Algarve, no Barrocal, de forma selvagem. Dando uma nova expressão às técnicas ancestrais do seu entrelaçado, as máscaras contam também a história do quase desaparecimento desta tradição algarvia e da relação que as pessoas ainda mantêm – por um fio fino, mas resistente – com essa planta quase esquecida.