À conversa com Filipa Won

PM – O que te inspira além do seu trabalho? Quais são seus hobbies ou interesses fora do
campo criativo?

Filipa – Antes demais, na minha perspetiva, a criatividade é necessária em todas as disciplinas, até um matemático precisa da criatividade, um problema matemático para ser resolvido não acontece sem criatividade! Os meus hobbies: Filosofia, Dança e Música, o Convívio e um bom filme! Tenho paixão pela vida, então o meu primeiro hobbie é filosofar, adoro pensar sobre as coisas! E fico muito feliz em ajudar os outros a pensarem sobre as suas vidas. Tenho muita energia por isso sou apaixonada pela dança e, por conseguinte, pela música. Também adoro estar no meio de pessoas, preciso do calor dos amigos e conhecer pessoas novas. O Cinema fascina-me, talvez porque agrega o pensamento, a fotografia, a música, o convívio e uma intensa emoção!


PM – Qual é o teu lugar favorito para encontrar inspiração ou relaxar? Alguma paisagem
ou ambiente que te inspire?

Filipa – Os meus momentos de inspiração acontecem sem que haja um padrão, simplesmente acontecem naturalmente. Já aconteceram numa conversa de café, durante uma caminhada, numa viagem, da observação de um objecto ou de um sentimento, este último trouxe-me as peças mais lindas! Depois quando vou trabalhar aquela inspiração, gosto de o fazer na minha oficina no meio das minhas lãs, onde conto com um jardim muito tranquilo e, dependendo da minha mood, em silêncio ou ao som de música! Mas mais do que um lugar, na minha opinião, a inspiração acontece estando em paz de espírito com a vida, isto é, quer enfrente um momento de alegria ou de tristeza, de amor ou de saudade, procuro aceitar as coisas como elas são, não me zangando nem contrariando, mas deixando-me levar pela energia do Universo!


PM – Tens alguma rotina matinal ou ritual que te ajuda a começar o dia com energia e
criatividade?

Filipa – Preciso de um óptimo pequeno almoço sentada e sem pressas, café de cafeteira italiana obrigatório, uma torrada com manteiga e muita fruta, uma boa toranja! Depois uma caminhada até à minha oficina a ouvir música, às vezes com os graves bem acentuados.


PM – Existe alguma história especial por trás de uma das tuas criações? Podes contar-nos
um pouco sobre ela?

Filipa – A maioria dos meus tapetes nascem de uma história, as histórias mais especiais
não posso contar … fazem parte do meu jardim secreto. Tenho um especial gosto da história por detrás do meu primeiro tapete orgânico, o tapete Moinho. O cliente que me encomendou este tapete pediu-me um tapete redondo. “ Um círculo perfeito Filipa!” disse-me o cliente de forma assertiva. Teria que ser um círculo perfeito porque tinha como destino o ponto zero de um moinho, transformado numa casa de férias, onde toda a arquitetura e decoração haviam sido projectadas respeitando minuciosamente as linhas redondas do moinho! Desenhei um tapete na forma de uma círculo perfeito, respeitando o seu pedido. Contudo, como sou muito atrevida … não resisti e desenhei também um círculo imperfeito, o resultado foi uma peça tão única pelo seu formato invulgar que estava perfeitamente bela! Quando enviei as duas propostas de desenho ao cliente, obtive sua resposta não mais do que em 5 minutos … Filipa o tapete imperfeito!


PM – Se tivesses a oportunidade de colaborar com qualquer artista/escritor/designer do
mundo, quem seria e por quê?

Filipa – O Vhils , sempre me impressionou a Arte que exige um sem número de horas de trabalho… E um dia passou a ser o meu trabalho… Horas a fio para bordarmos um metro quadrado! Depois fascina-me a simplicidade da execução … Um martelo e uma parede e coisas tão extraordinariamente bonitas que dali resultam!


PM – Uma música?

Filipa – Marvin Gaye, Got to give it up!


PM – Um livro?

Filipa – Sidarta, o livro que mais marcou a minha forma de estar na vida!


PM – Um filme?

Filipa – Muitossssss, adoro Cinema! Acção: “Os Suspeitos do Costume”, “Um Mal Quando
Vem Nunca Vem Só”, “Memento”, “The Departured”, “Pulp Fiction”, “Transpoting”, “Cidade de Deus”. Impressionante o filme coreano “Old Boy!”. História de Amor: “O Paciente Inglês” e “The Reader”, fartei-me de chorar… Holocausto: “A vida é bela”, “O Menino Com Pijama Às Riscas”, “A vida dos Outros”, este último tocou-me imenso por sentir que sou alguém à margem das regras da sociedade. Por último, porque sou apaixonada pela dança e crianças, “Billy Elliot”.


PM – Uma cor?

Filipa – Verde.


PM – Um lugar?

Filipa – Vários… A minha sala de estar, a minha oficina e a Praça das Flores, cidade onde vivo Lisboa, a praia ao amanhecer ou um final da tarde mesmo que chuvoso, para jantar o Farès, no Bairro Alto, o Capela, a serra onde cresci, Caramulo e cidade estrangeira Paris!

© Manuel Manso


PM – Uma pessoa?

Filipa – Não consigo referir uma… Tantas foram as pessoas que tiveram um papel diferente em mim, o seu conjunto fazem de mim a pessoa que sou! Até uma antiga empregada de Cabo Verde, muito humilde, me inspirou a viver a simplicidade da alegria!


PM – Uma peça tua?

Filipa – Três … O tapete Joana, o tapete O Beijo e o tapete Antoine.


PM – Uma peça de um colega?

Filipa – Tenho em minha casa uma peça da Maria Pratas num tom laranja lindo, um quadro bordado pela Rita Kroh e encomendei um monstro do Carlos Manuel Gonçalves.


PM – Alguma experiência ou viagem que teve um impacto significativo no teu processo
criativo? Onde e porquê?

Filipa – Todas, regresso das viagens com uma forte energia interior, talvez pela novidade que representam, preenchem-me, voltando com uma vontade de materializar esta novidade.
“The real voyage of discovery consists not in seeking new landscapes, but in having new eyes” Marcel Proust.


PM – Quais são os teus métodos para lidar com o bloqueio criativo?

Filipa – Ir beber uma Caipirinha e dançar! Se for uma questão de tristeza, deitar cá para fora todas as lágrimas, descansar e ressuscitar! Portanto, é uma questão de respeitar o bloqueio e saber esperar por dias melhores…

Para conhecer mais do trabalho da Filipa Won convidamos a visitar: