Estivemos à conversa com Vânia Gonçalves, uma ceramista cujos objetos e esculturas em cerâmica transcendem os limites da matéria. Com uma habilidade impressionante, Vânia busca expressar a fragilidade, a leveza e o movimento através de suas criações. Moldes podem até fazer parte de seu processo criativo, mas é ao deixar o barro fluir livremente que a ceramista permite que suas peças assumam formas surpreendentes, torcendo e dobrando-se como se fossem tecidos esculpidos pela própria natureza.

PM – O que te inspira além do teu trabalho? Quais são os teus hobbies ou interesses fora do campo criativo?
Vânia – Sou uma grande fã de música, adoro ir a concertos, descobrir bandas novas, comprar vinis. Também adoro ler e fazer caminhadas.
PM – Qual é o teu lugar favorito para encontrar inspiração ou relaxar? Alguma paisagem ou ambiente que te inspire?
Vânia – Cresci junto ao mar, por isso talvez seja a paisagem que primeiro me vem à cabeça. Adoro pedras, ver a erosão das rochas pelo mar e vento, as cores da terra.
PM – Tens alguma rotina matinal ou ritual que te ajuda a começar o dia com energia e criatividade?
Vânia – Ritual matinal passa por um café, pequeno-almoço e uma aula de pilates pela manhã. E as crianças que nunca se querem despachar para sair para a escola…
PM – Existe alguma história especial por trás de uma das tuas criações? Podes contar-nos um pouco sobre ela?
Vânia – Penso muito e leio sobre a busca da felicidade, adoro psicologia e a complexidade das relações humanas. Numa série de esculturas que tenho vindo a desenvolver chamada “Interconnected”, lastras finas são coladas em diferentes estádios de secagem e criam uma rede, em que alguns pontos se separam/partem e outros ficam unidos, tal como nas nossas relações. Na peça “We need to talk” a intenção era através do vidrado escorrido simbolizar algo que tem de ser falado porque se está a entranhar na relação e não se deve/pode ignorar.


PM – Se tivesses a oportunidade de colaborar com qualquer artista/escritor/designer do mundo, quem seria e por quê?
Vânia – Georgia O’Keefe, porque gosto de pintura abstrata, das formas delicadas e das cores. Segundo ela, as pinturas eram o resultado do que ela sentia sobre o que estava a ver e não uma cópia. Eu acho que isso é o que eu gostaria de conseguir atingir no meu trabalho.
PM – Uma música?
Vânia – Running Wild, Tindersticks.
PM – Um livro?
Vânia – “Shantaram”, de Gregory David Roberts.
PM – Um filme?
Vânia – Blue Valentine.

PM – Uma cor?
Vânia – Ocre.
PM – Um lugar?
Vânia – Praia do Guincho.
PM – Uma pessoa?
Vânia – Mãe.

PM – Uma peça tua?
Vânia – “Doubt” 2023, Vânia Gonçalves.

PM – Uma peça de um colega?
Vânia – Behold: Become, Signe Fensholt.

PM – Alguma experiência ou viagem que teve um impacto significativo no teu processo criativo? Onde e porquê?
Vânia – A exposição “Image as burden” da Marlene Dumas que vi na Tate Modern em Londres foi definitivamente marcante. Ela pinta sempre a partir de fotografias, mas consegue capturar a vida e toda a sua complexidade nas suas pinturas. Aconselho vivamente a ver o seu trabalho.

PM – Quais são os teus métodos para lidar com o bloqueio criativo?
Vânia – Penso que parar, passear, descansar podem trazer uma renovada energia e ideias. Outras vezes, começar a brincar, sem pensar muito com o barro e fazer formas pequenas sem grande critério. Quando trabalhamos sem pressão e experimentamos, encontramos o caminho.
Para conhecer mais do trabalho da Vânia Gonçalves convidamos a visitar: